DIA 5 - De Puno para Cuzco
Informação importante que esqueci de registrar ontem: Puno já está em território peruano. Logo após que sai de Copacabana, o ônibus pára na fronteira. Todos então são convidados a descer, caminhar até o posto da imigração boliviana, passar também pela imigração peruana e depois voltar ao ônibus.
Legal cruzar a fronteira a pé. Agora no Peru, as diferenças são pequenas, mas vão se notando aos poucos.
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Voltando ao dia de hoje, a saída de Puno repetiu o roteiro da saída de La Paz. Acordar cedo, empacotar as coisas, tomar um café da manhã meia-boca e correr para pegar o ônibus. Finalmente agora com destino à Cuzco.
Ainda na estação, houve um atraso de uma hora na saída. Parece que um protesto de estudantes fechou a estrada de acesso à cidade. Olhando pelo lado positivo, melhor ter a estrada bloqueada por estudantes do que pelo Sendero Luminoso.
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Valeu a pena fazer a viagem durante o dia, a paisagem é maravilhosa. O caminho já não acompanha mais o Lago Titicaca, agora vamos entrando pelo meio das montanhas. Como bom brasileiro que nunca tocou em um floco de neve na vida, uma das coisas que acho fascinante são os montes nevados que, de quando em quando, aparecem no horizonte. E desta vez eles não estavam no horizonte, mas bem ali ao lado da estrada.
No meio do trajeto paramos em um local chamado La Raya, um marco do local de maior altitude no caminho entre Puno e Cuzco, algo em torno de 4200 metros acima do mar. Dali em diante, cada vez mais vamos afundando em vales, cada vez mais estreitos e contornados por montanhas cada vez maiores. O trajeto vira estrada de serra mesmo, e a paisagem vai se tornando mais verde, bonita e diferente.
No fundo dos vales, campos sempre cultivados ou cheios de pastores e ovelhas. As plantações parecem mais ricas e fartas que na Bolívia. Em certo ponto, a estrada começa a acompanhar o rio que corta o vale. O dia cheio de sol também contribuía para a paisagem. Bonito, muito bonito mesmo.
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Não resisti em ligar meu disc-man e gastar mais duas pilhas pequenas ouvindo um cd. Precisava de uma trilha sonora para completar esse visual.
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Juro que, em um certo ponto da estrada, vi um dos pastores de ovelhas vestindo uma camisa da nossa seleção canarinho. E era a camisa 2, do capitão Cafu.
Juro que vi.
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Ao chegar à estação de ônibus de Cuzco, uma quizumba danada: cheio de gente te oferecendo táxi, pensão, hotel, dólares... Sexo, drogas e rock´n´roll também deviam estar disponíveis, era só procurar.
Peguei logo o primeiro táxi que vi e fui direto à pensão que o casal de ingleses de Copacabana haviam me indicado: o Hostal Magnólia.
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Dona Ivone, dona do hostal, é um amor de pessoa. Logo após eu me instalar, já veio se apresentando e se oferecendo para me dar as informações turísticas de Cuzco.
Me explicou todos os detalhes, opções, duração dos passeios, se ofereceu para comprar minha passagem de volta para La Paz. Agradeci, e ela retrucou dizendo que ali ela era “a minha mãe”.
Podem dizer que isso foi um golpe baixo de marketing de fidelização, mas só sei de uma coisa: Dona Ivone me conquistou.
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Por outro lado, essa também foi uma hora de decepção: mesmo fazendo diferentes arranjos, apertando aqui e acolá, eu não teria tempo suficiente para fazer a Trilha Inca.
A Trilha Inca é uma das maneiras de se chegar a Machu Picchu e, supostamente, a mais interessante. Ao invés de ir às ruínas diretamente via trem e ônibus, desce-se no meio do caminho e percorre-se quatro dias de trilha por dentro da floresta.
Faz-se isso obrigatoriamente através de grupos guiados e organizados pelas agências turísticas da cidade. A questão é que eram necessários três dias de antecedência para reservar um lugar em grupo de uma agência confiável. Com esse prazo somado aos quatro dias de trilha, não conseguiria voltar a La Paz a tempo de pegar o avião para São Paulo.
Fiquei muito frustrado naquela hora. Caramba, que merda, podia ter corrido mais um pouco e chegado um dia antes a Cuzco. Por outro lado, também já estava um pouco reticente quanto a fazer a trilha. Além de ser bem caro (em média US$ 180,00), está chovendo praticamente todo o final de tarde e realmente eu não estou a fim de dormir igual a um pinto molhado. Mesmo assim, fiquei decepcionado.
Poderia tentar encontrar outras agências menores (o que o pessoal da pensão não recomendou) ou fazer uma agenda suicida apertadíssima, coisa como chegar de ônibus em La Paz duas horas antes do vôo decolar. Mas também não queria transformar a viagem num programa de índio, muito menos ficar me estressando com horários.
Pronto, depois de todo esse embate mental (e quem me conhece sabe que esse tipo de decisão acaba comigo...) decidi não fazer a trilha e optar por um jeito intermediário de chegar a Machu Picchu. Nem o trekking radical, mas também não no meio da manada de turistas.
Mas esse jeito eu deixo para contar depois.
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Após decidir tudo, saí para dar a primeira volta por Cuzco e aproveitar para comer alguma coisa.
A pensão fica há algumas quadras do centro da cidade. Daí que a sensação da primeira vez que se entra na Plaza de Armas de Cuzco, a principal da cidade, é muito foda. Com o perdão da força da palavra.
A praça, não se bastando com a Catedral da cidade, ainda ostenta outra igreja, talvez ainda mais bonita que a primeira, a La Compañia. Já era noite e ambas as igrejas estavam iluminadas , ambas exibindo o estilo barroco da colonização espanhola.
Para completar., a praça ainda é contornada por arcadas, também coloniais, detrás das quais ficam os cafés, restaurantes e lojinhas turísticas diversas.
Caramba, com esse cartão de visitas já posso passar um mês nesta cidade.
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